
No entanto, do ponto de vista ambiental, por outro lado, a agricultura tem um peso muito superior ao peso que representa no PIB. Este peso reflecte-se na sua ocupação do solo, no seu impacte (negativo) sobre a biodiversidade, no seu consumo de água e no seu contributo para a poluição da água. Adicionalmente, diversos estudos têm vindo a demonstrar que a alimentação, analisada no seu ciclo de vida, representa uma das principais componentes do impacte ambiental do consumo.
Vemos também uma crescente importância dada na comunicação social aos problemas da segurança alimentar, com múltiplos escândalos relacionados com falhas nessa segurança alimentar, como a BSE ou os nitrofuranos.
Suponha agora que era possível juntar consumidores, agricultores e ambientalistas, a trabalhar em conjunto num projecto que permitisse dinamizar empresarialmente a agricultura biológica, promovendo junto dos consumidores produtos sustentáveis e com garantia de segurança alimentar, rigorosamente controlados no agricultor.
A agricultura sustentável é o resultado do uso da interacção dos métodos alternativos que utilizam a agricultura biológica, a biodinâmica, o controle biológico e o natural, visando o desenvolvimento de uma agricultura com o menor prejuízo possível ao meio ambiente e à saúde humana, onde se tenta aproximar o equilíbrio estabelecido nas relações entre os recursos naturais envolvidos nos sistemas produtivos agrícolas, do equilíbrio natural de um sistema ecológico.
O solo que sai das lavouras causa assoreamento e a poluição nos rios e represas, condição que acaba por afectar a potabilidade da água fornecida aos animais e aumentar o custo de tratamento da água fornecida à população urbana. A erosão do solo provoca perdas de solo, nutrientes e matéria orgânica; diminui a capacidade de armazenamento de água; altera os atributos físicos, químicos e biológicos do solo e promove a estagnação do rendimento das culturas a níveis abaixo do seu potencial produtivo. Além disso, a erosão do solo causa também problemas ambientais, económicos e sociais. Esta situação provoca a redução lucrativa da exploração e, ao mesmo tempo, tornam os produtos menos competitivos no mercado. Isso contribui para que muitos agricultores sejam levados à falta de estímulo e ao consequente abandono da agricultura. Com isso, agravam-se os problemas sociais em prejuízo de toda a sociedade.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) cerca de 20.000 pessoas morrem por ano e milhões são envenenados directa ou indirectamente pelos efeitos dos agrotóxicos. Além disso, a própria terra torna-se inaproveitável pela contaminação por agrotóxicos reiteradamente usados, sendo este um dos factores de redução da sua capacidade, além de que os pesticidas prejudicam a saúde humana, contaminam a água, agridem os ecossistemas e deixam as pragas mais resistentes. Isto aliado à erosão, à desertificação e ao desaparecimento dos produtos nutrientes, por serem as mais significativas causas da degradação não somente dos solos, mas afectam em diversos graus, todos os recursos naturais, de forma directa e indirecta, resultantes dos maiores problemas da agricultura.
Estas constatações mostram a necessidade de se modificar a forma de agricultura, surgindo a emergente agricultura biológica. Dentro deste novo panorama, várias áreas da ciência têm mostrado respostas altamente significativas no desenvolvimento e adequação de estratégias tecnológicas, com custos baixos, altamente eficientes e adaptáveis à maioria das condições dos agricultores. Porém o maior desafio que ainda persiste na adequada transferência desta tecnologia é a completa aceitação/adaptação pelo principal beneficiado: o agricultor.
Entre as práticas de uso do solo com o objectivo de reverter o processo de degradação, as práticas vegetativas (cobertura do solo, adubação verde, rotação de culturas, cultivo mínimo e plantio directo) têm-se mostrado altamente eficientes. Além disso, outros factores benéficos tais como a recuperação de áreas degradadas, reciclagem de nutrientes, redução da infestação por plantas daninhas, pragas e doenças e a possibilidade de integração com a pecuária, são possíveis com o uso de tais práticas.
Entre estas tecnologias, pode-se citar o desenvolvimento e o avanço obtido para a agricultura biológica, que se tornou possível com a utilização de insecticidas biológicos, adubos naturais e esterco animal para fertilizar os campos, optando ainda o agricultor pela forma rotativa de colheitas para “não cansar o solo”. Sabe-se também que algumas empresas já estão a produzir enzimas que aumentam a dissolução do mineral fósforo contido nas rações para animais, diminuindo assim a contaminação do solo e da água quando os seus dejectos são utilizados como adubo orgânico.
Apesar da oferta e da procura ter aumentado, os produtos de agricultura biológica ainda não se encontram com muita facilidade. Só em grandes superfícies comerciais e em lojas especializadas mas a diferença dos preços deixam muitos consumidores reticentes. Os agricultores encontram grandes dificuldades na distribuição dos seus produtos. As grandes superfícies garantem a compra mas pagam o que querem, e as perdas (produtos não vendidos) são suportadas pelo próprio produtor. Por isso há todo o interesse em evitar essa intermediação com o consumidor final.
Soluções simples, mas eficientes são sempre muito bem vindas, principalmente as de baixo custo e adaptadas às condições locais, certamente, são um dos caminhos em que se pode ter a possibilidade de se promover a tão desejada sustentabilidade na agricultura. Algo aparentemente complexo, mas não inatingível, principalmente para quem tem o conhecimento, cria, adapta e aperfeiçoa a agricultura, contribuindo significativamente para a humanidade e para os recursos naturais.
Carlos Monteiro