
Num recente artigo que encontrei na imprensa diaria, surgia uma noticia em que a vizinha Cantanhede se afirmava como região afamada na gastronomia do míscaro, tal como a Bairrada o é pelo leitão assado. O que nos faz mais uma vez pensar, então e Mira, onde fica? Visto que pela capital do distrito já se encontram à venda os conhecidos "Miscaros de Mira".
Num artigo afirmava se que "No município de Cantanhede e entidades públicas ligadas à agricultura e florestas associaram-se a um grupo de investigadores do Departamento de Botânica da Universidade de Coimbra (UC), com a intenção de melhor conhecer e valorizar essa iguaria silvestre que, pelo Outono, brota nos solos arenosos dos pinhais da gândara. Dos resultados prevê-se uma aplicação prática, que permita potenciar essa riqueza, quer em termos gastronómicos, quer no agro-turismo, e ajude, um dia, a alcançar o estatuto de produto regional certificado. Pouco se conhece da biologia deste cogumelo e nessa curiosidade se motivaram os cientistas da UC, também estimulados pela importância e impacto que os seus resultados poderiam ter na economia das populações rurais daquela zona. Num primeiro projecto, financiado pelo programa AGROS, juntaram-se investigadores universitários ao Instituto para o Desenvolvimento Agrário da Região Centro (IDARC) e à Direcção Regional da Agricultura da Beira Litoral (DRABL). No decurso da investigação, iniciada no Outono de 2004, para decorrer durante três anos, pretende-se realizar um inventário das áreas mais produtivas, fazer estimativas de produção anual e testar processos de colheita. No segundo projecto, igualmente com a duração de três anos, mas financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia, a investigação incidirá na biologia e ecologia do míscaro, saberes considerados indispensáveis para a gestão sustentável deste recurso. A segunda investigação, que se interliga com a primeira, e que deverá prosseguir em anos subsequentes, terá início antes da colheita do próximo Outono. "
O míscaro é um fungo, um organismo micorrízico. Vive em simbiose com certas plantas, neste caso com o pinheiro bravo, e através das raízes deste faz a troca de nutrientes, necessários ao desenvolvimento de ambos."Os cogumelos são a estrutura reprodutora. Quando são apanhados muito jovens, e fechadinhos, que é quando têm maior valor comercial, estamos, desse modo, a fazer a dizimação dos esporos".
No nosso concelho, sabemos que a madeira continua a ser o principal rendimento da floresta, mas a gestão sustentável do míscaro poderá revelar-se como importante fonte de receita para as populações da região e levar os proprietários florestais a um olhar mais atento sobre as matas, evitando desta forma também riscos de incendio (sustentabilidade pois então).
É necessario certamente que se inicie todo um processo de informação e sensibilização das populações locais, iniciando se pela difusão de bons métodos de colheita, formação das pessoas e a criação de um cartão de colector. Tudo isto poderão ser iniciativas municipais e possibilidades que a Câmara Municipal tem a obrigação de equacionar, pois caso contrário é um grande patrimonio biologico e economico que estamos mais uma vez a deixar lapidar por outros, à semelhança de outros produtos, cuja vocação estratégica como mais valia para a economia local, andamos a deixar de lado, esquecida, até que outros a venham aproveitar.
Poder se ia iniciar por um cartão de colector e pela promoçao acções de formação e sensibilização, também para "motivar os proprietários dos pinhais a proteger o que é seu, ao perceberem que o produto é valorizável". O míscaro (Tricholoma flavovirens) há muitos anos faz parte da gastronomia da zona das Gândaras. Nos mercados, o quilo deste produto oscila entre os cinco e os oito euros, e cada vez mais os concelhos da Gandara, e os seus pinhais são procurados por forasteiros no Outono.
Difundir as boas práticas, criar um regulamento e instituir um cartão de colector, em articulação com a fiscalização municipal, seriam varias das opçoes possiveis para proteger os interesses dos cidadãos do município, para que colham os benefícios de um produto da sua região. Se não houver cartão e regulamento vai-se delapidando um património", pela colheita desregrada e por um número cada vez maior de pessoas, seduzidos pela iguaria, ou em busca de uns recursos suplementares.
João Luís Pinho
(adp.)