
A unidade de aquicultura da multinacional galega Pescanova em Mira é um dado adquirido. Apesar de o Estudo de Impacte Ambiental (EIA) estar suspenso, CCDRC e Ministério do Ambiente garantem não haver «nenhum grão de areia» no processo.
«Temos [Câmara de Mira] a convicção de que a preservação ambiental e turística do concelho é conciliável com o projecto da Pescanova. A Câmara está calma, crente e confiante nas instituições». Foi com este comentário, curto e conciso, que o vereador da autarquia de Mira, Miguel Grego, quis colocar um ponto final sobre a suspensão do Estudo de Impacte Ambiental (EIA) da unidade de aquicultura projectada para Mira, prevista para ser implantada em 80 hectares de terreno classificado como Rede Natura. O vereador afirmou ontem ao nosso Jornal estar inteirado de todas as “démarches” do processo relativo ao projecto Pescanova, os motivos que originaram a suspensão do EIA, mas não foi além daquele comentário.Face à referida suspensão, o Diário de Coimbra contactou o Ministério do Ambiente e Ordenamento do Território no sentido de obter esclarecimentos sobre este processo, e Joaquim Calé, assessor deste ministério, foi peremptório: «A suspensão do Estudo de Impacte Ambiental que está em curso foi motivada por iniciativa do próprio promotor», que, acentuou aquele responsável, «queria fazer ajustamentos na implantação das instalações para minimizar os impactos ambientais».Questionado se o Ministério, na sequência da suspensão aceite pelo Instituto do Ambiente, tem motivos para inviabilizar o projecto da Pescanova em Mira, Joaquim Calé disse ao nosso Jornal que o processo de Avaliação de Impacte Ambiental (AIA), com emissão da respectiva declaração de impacte ambiental, «é que permitirá avançar ou não com o projecto» que, explicou, «só deverá estar concluído em Agosto.Esta declaração [de impacte ambiental] é feita pelo ministro da tutela, Francisco Nunes Correia, com carácter vinculativo, podendo, conclui aquele responsável do ministério, «ser desfavorável, favorável ou favorável condicionada».
Na tentativa de saber quais os verdadeiras motivos que levaram à suspensão do EIA e que consequências pode vir a ter para o futuro da Pescanova em Mira, o Diário de Coimbra contactou a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro (CCDRC), uma das entidades que integra a comissão que procede à avaliação do estudo.Alfredo Marques, presidente da CCDRC também foi peremptório: «O projecto da Pescanova não está comprometido nem para o país nem para Mira. Não tem sentido».Captação e devolução de águaO que acontece - «e isto é uma prática comum em situações análogas», esclareceu Alfredo Marques, é que o Instituto do Ambiente pediu novos elementos ao promotor do projecto, o que não significa «desentendimentos ou conflitos com o promotor».Por isso mesmo o responsável da CCDRC garante que este procedimento «não põe, de maneira alguma, em causa o projecto», e que não faz sentido dizer ou pensar que o mesmo «não vem para o país e para Mira».Alfredo Marques acentuou que, ainda durante o dia de ontem, foi realizada uma visita de membros da comissão que procede à avaliação do estudo à Galiza para lhes mostrar as práticas ali em vigor, revelando que os “prejuízos” da suspensão do estudo de impacte ambiental se cifrarão, apenas, no atraso de cinco ou 10 dias, uma vez que já para a próxima semana a Pescanova entregará no Instituto do Ambiente o projecto da unidade de aquicultura com todos os elementos reajustados e alterações à memória descritiva do referido projecto.
Ao que o nosso Jornal apurou, o que levou à suspensão do estudo de impacte ambiental prende-se com a captação e posterior devolução de água do mar, o que levou, aliás, os membros da comissão do EIA a deslocarem-se ontem à Galiza precisamente para observar este mecanismo.Recorde-se que o projecto da multinacional Pescanova foi contestado pelos ambientalistas, por estar previsto para uma zona de Rede Natura 2000, um instrumento legal que visa a garantir a preservação de espécies e habitats considerados prioritários a nível europeu.Este projecto a desenvolver através da Acuinova – Actividades Piscícolas, envolve um investimento de cerca de 140 milhões de euros, a realizar em duas fases durante os próximos quatro anos, numa nova unidade de aquicultura de pregado. Numa primeira etapa a Pescanova propõe-se produzir 7000 toneladas de pregado, passando para as 10000 toneladas numa segunda fase.Relevante é, também, o facto de o Governo português contribuir para este investimento da Pescanova em Mira com cerca de 40 milhões de euros, que o definiu como PIN - Projecto de Interesse Nacional.
José Carlos Silva in D.C.