

Vai iniciar a 18ª campanha,
O questionário, base do trabalho de campo do projecto Coastwatch, sofreu algumas transformações, de forma a torná-lo mais adequado à realidade actual da costa portuguesa – (des)ordenamento do território, erosão, artificialização … Estas alterações não serão um corte com a temática anterior – muito vocacionada para a temática dos resíduos – mas sim um complemento. (in GEOTA)
É sobre este novo tema da 18ª campanha Coastwatch, que quero deixar aqui algumas reflexões.
A intensa ocupação do litoral tem vindo a ser efectuada de forma que não viabiliza um desenvolvimento sustentável da faixa costeira. Assim, embora seja necessário intervir a diferentes níveis, torna-se imprescindível e imperioso proceder, em grande parte dos casos, a um reordenamento da faixa litoral de forma a propiciar um desenvolvimento racional e sustentável dessa importante zona do território.
As reacções que se podem observar variam muito: da parte de alguns pescadores, a compreensão de um fenómeno natural, fica resumido numa expressão – “o mar nos deu, o mar nos tira”. Noutros casos, o que se vê é uma indignação contra “o governo que não faz nada”. Para muitas pessoas ainda existe a crença de que o homem tem um poder ilimitado sobre a natureza, que pode dominá-la de acordo com os seus interesses. Assiste-se assim ao pavoroso trabalho de acumular betão e enormes pedras na linha de costa, as quais, ou são sugadas pelo mar ou passam a fazer parte de uma paisagem que nada tem de belo.
Mas o facto que devia ser amplamente esclarecido é que a linha de costa nem sempre foi como a conhecemos hoje. Oscilou com os períodos glaciários e interglaciários, que influenciaram directamente o nível do mar.
Mas tudo isto que está a acontecer mostra a falta de ordenamento do território. Durante décadas admitiu-se, com autorização ou não, a construção em áreas de risco, como: leitos de cheia; vertentes instáveis, com possibilidade de deslizamentos ou de fenómenos sísmicos; dunas e arribas. A ausência de uma fiscalização preventiva e a permissividade de alguns responsáveis pelo licenciamento, levou muita gente a construir onde não devia, ou por ignorância ou porque achavam que, embora fosse um risco, “talvez não acontecesse nada”. Em muitos casos, a ocupação destas áreas contribuiu para acelerar o processo de degradação.
Na zona costeira do nosso concelho, tem aumentado o declive das praias e diminuindo a sua extensão.
Para além do deficiente ordenamento do território existente, temos ainda as construções de esporões, que tem provocado dificuldade de retenção de areias a sul, a erosão é cada vez mais forte, sendo previsíveis galgamentos oceânicos de efeitos muito significativos.
A construção dessas obras pesadas de engenharia costeira são, como lhe chama um amigo meu, “a caminhada de um bêbado, dois passos para frente, três passos para trás".
Vou ficar por aqui para não ser exaustivo. No entanto, queria aproveitar e deixar aqui expresso, o agradecimento à AAMARG, pela sua colaboração no programa Coastwatch Portugal.
Carlos Monteiro