quarta-feira, novembro 07, 2007

Pescanova e o PIDDAC

Quase um terço das verbas que o Programa de Investimentos e Despesas de Desenvolvimento da Administração Central (PIDDAC) de 2008 destina ao distrito de Coimbra vai para o projecto de aquicultura da empresa Pescanova em Mira.


No capítulo dos investimentos em "vários concelhos", o documento tem inscritos 43,5 milhões de euros para projectos de aquicultura, mas fonte do Ministério da Agricultura, Desenvolvimento Rural e Pescas precisa, ao JN, que essa verba é praticamente toda para a Pescanova.


Na semana passada, já o grupo parlamentar do partido "Os Verdes" veio criticar a alegada generosidade do Governo para com a empresa. Em comunicado, notou que aqueles 43 milhões representam "quase cinco vezes mais do que está inscrito para 16 concelhos do distrito, não contabilizando o concelho de Coimbra".Segundo o projecto do PIDDAC de 2008, prevê-se investimentos de 140 milhões de euros no distrito, sendo que três das 18 câmaras que o compõem - Mira, Cantanhede e Soure - não têm projectos próprios contemplados.


A contenção geral do programa permite que Coimbra mantenha, pelo segundo ano seguido, o terceiro lugar do ranking dos distritos com mais verbas (liderado por Lisboa e Porto). Mas essa mesma verba de 140 milhões revela também o terceiro corte, em três anos, infligido pelos documentos de PIDDAC elaborados pelo actual Governo. Em 2005, ano das últimas legislativas, o distrito viu ser-lhes destinados 231 milhões de euros, mas, desde aí, a sua fatia de PIDDAC não parou de mingar. "Todos gostávamos de ter mais verbas", comentou ontem a deputada Matilde de Sousa Franco, que encabeçou a lista com que o PS concorreu em Coimbra nas últimas legislativas. Prestes a entrar numa reunião de trabalho, a viúva do ex-ministro Sousa Franco acrescentou apenas que a contenção do PIDDAC - documento que disse já ter merecido a sua análise - reflecte a situação económica do país, "que não é boa".


À frente do município de Cantanhede, o social-democrata João Moura concede, também, alguma compreensão. Regista com "desagrado" o facto de Cantanhede não beneficiar de qualquer investimento, mas sempre diz que "o princípio da solidariedade" lhe impõe alguma "resignação". Investimento que parece ter a cobertura de todas sensibilidades políticas é o que se prevê no novo Hospital Pediátrico de Coimbra (HPC). Há largos anos a patinar nas indisponibilidades da Administração Central, tem prometidos 17 milhões de euros. "Desta vez, há um acréscimo nas verbas", congratula-se o porta-voz da respectiva comissão de utentes, Franscisco Queirós, não sem deixar uma nota negativa "O projecto está profundamente atrasado e esse acréscimo não deixa ninguém descansado", diz.A capital do distrito, com 44 milhões de euros, recebe cerca de seis vezes mais do que a Figueira da Foz - o segundo concelho mais beneficiado, com sete milhões de euros, que vão quase na totalidade para obras no seu porto.


Sete milhões é quanto poderá ser gasto, também, na futura cadeia de Coimbra. Ainda nesta cidade, o novo Centro Regional do Sangue tem inscritos 3,6 milhões de euros. E a Universidade contará com 1,9 milhões para uma nova residência no Polo II, 1,3 milhões para o Museu da Ciência, bem como 2,7 milhões para a unidade central do Polo da Saúde.Por outro lado, Coimbra vê o sempre adiado Palácio da Justiça receber só 250 mil euros e o projecto do novo conservatório de música sem qualquer verba. Em posição intermédia, parece surgir o atrasado Metro Mondego, cujo projecto beneficiará, em rubricas das acções em "vários concelhos", de perto de seis milhões. De resto, como é habitual, o PIDDAC não se afigura capaz de contrariar a apatia económica dos pequenos concelhos e a desertificação do Interior do distrito. Além de Penacova, que tem um milhão de euros prometido, Figueira da Foz e Coimbra, nenhum outro concelho receberá mais de 165 mil euros. E há uma dezenas de municípios que vai ter de se contentar com investimentos entre mil e 56 mil euros.
Nelson Morais

2 comentários:

Carlos Monteiro disse...

Há verbas inscritas em PIDDAC que não tiveram qualquer execução até hoje, nunca chegam a ser gastas e não passaram de intenções. Constar do PIDDAC não é sinónimo de concretização.
O que interessa é que o Governo assuma os compromissos que tem com a nossa autarquia.

Anónimo disse...

O montante de facto é elevado, mas sabendo nós (os que sabemos)do das obras em construçao no concelho de Mira, podemos indagar de onde provém esses montantes.
Insatisfeitos? Claro...Mas creio que mesmo que ao concelho de Mira coubesse o valor atribuido ao concelho de Coimbra surgiriam vozes a criticar.
Mas tem mesmo que ser assim , infelizmente ou não, vivemos num mundo onde "quem não chora, não mama"!