Assim se vive o Entrudo tradicional em Portugal. Prepara-se a Quaresma, dá-se as boas-vindas à Primavera, parte-se à conquista dos corações das raparigas. Brincadeiras intemporais que, por estes dias, reavivam a chama de um Entrudo que permanece imune aos plásticos dos martelinhos, aos corsos apoteóticos e aos calores tropicais.
Os caretos de Lagoa de Mira:No tempo fica perdida a origem dos caretos da Lagoa de Mira. João Luís Pinho, responsável pelo grupo de caretos da vila do distrito de Coimbra, adianta que «as pessoas mais velhas, algumas com 90 anos de idade, lembram-se da presença dos caretos desde a infância e de históricas contadas pelos avós sobre estas figuras carnavalescas». É possível, no entanto, situar a sua existência há centenas de anos, porque existem registos fotográficos dos caretos de Lagoa de Mira com mais de cem anos. O mesmo responsável destaca pormenores curiosos desta tradição que no concelho de Mira está presente apenas na vila de Lagoa de Mira. «No concelho apenas na Lagoa há caretos. Esta é uma das curiosidades que temos vindo a estudar, mas ainda não há conclusões. Depois há as semelhanças com os caretos do noroeste do país, assim como também aqui parece haver uma ligação a rituais pagãos relacionados com a iniciação dos rapazes na idade adulta». Actualmente, são entre 20 e 30 os caretos da Lagoa de Mira que, apenas pelo Entrudo, saem à rua. De forma endiabrada, demoníaca vão-se metendo com as raparigas a quem o ritual dos caretos está interdito. Depois de as assustarem e agarrarem, os caretos tentam dar alguns mimos às meninas, «as que deixam, claro», brinca João Luís Pinho. O traje dos caretos da Lagoa de Mira distingue-se pelas cores garridas, com predominância do vermelho, e pelas máscaras, de onde sobressaem uns enormes chifres. A saia do careto é vermelha, «numa alusão ao pecado», a camisa branca, «símbolo de pureza», explica João Luís Pinho. Estes seres demoníacos fazem-se ainda acompanhar por chocalhos e campainhas que agitam endiabrados, aumentado o efeito diabólico que querem transmitir.
Ana Clara e Sara Pelicano | sexta-feira, 4 de Março de 2011
(texto na integra em: http://www.cafeportugal.net/pages/dossier_artigo.aspx?id=1666
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