terça-feira, janeiro 08, 2008

Mar cruel leva pescador de Mira

Pescador de 39 anos, natural e residente na Praia de Mira, está desaparecido desde o início da manhã de ontem.
João Manuel Rodrigues Damas, também conhecido por “Juca Catana”, tinha partido para França, no passado dia 2, para mais uma jornada de trabalho no mar, depois de ter passado o Natal em família.

Ontem, ao início da tarde, o ambiente era de grande dor e consternação na praia. Ninguém queria acreditar que o marido e pai de duas meninas – uma de 11 anos e outra de 14 meses – era um dos portugueses vítimas do naufrágio da embarcação “Petit Jolie”, que naufragou ontem a cerca de 50 quilómetros das ilhas Virgem, junto à costa francesa, com três portugueses e quatro franceses a bordo.Junto à casa dos pais do pescador desaparecido, a reportagem do DIÁRIO AS BEIRAS encontrou muitos amigos e familiares que lamentavam o desaparecimento do filho da terra que partiu, há alguns anos, em busca de uma vida melhor.


Consternado com o desaparecimento do pescador, Simão Marques, cunhado da vítima, também anda no mar, fora do país, há 10 anos. “Aqui o trabalho no mar não compensa, e já tenho levado muitas pessoas, pois lá ganha-se três a quatro vezes mais do que aqui”, disse Simão Marques, como que a explicar o facto do seu familiar também ter ido para fora. Com os olhos marejados de lágrimas, lembrou que as condições de trabalho, no estrangeiro, em França, “são melhores, pois tratam-se de empresas que têm tudo e onde há muito rigor”, quer em termos de “seguros e sistemas de salva vidas”. Contudo, e como parece ter sucedido com o naufrágio da embarcação onde seguia o seu cunhado, “às vezes isso não chega, porque é tudo muito rápido”. Os arrastões – “embora digam que são traineiras” – em que trabalha, à semelhança de outras pessoas da praia, permitem “ganhar bem”, apesar do “muito trabalho”. Com um mar mau “normalmente entre os meses de Novembro a Março”, Simão Marques afirma que se “não fossem os portugueses, os barcos franceses estavam parados”. Lembrando que “ninguém sabe ao certo o que aconteceu”, Simão Marques notou que a embarcação pode “ter sido abalroada”, uma vez que “nesta altura do ano o mar está bravo”.

O pescador explicou que está neste momento em casa porque a jornada de trabalho “é de 24 dias no mar e 14 a descansar” e por isso veio a casa no Ano Novo. Mesmo não trabalhando para a mesma empresa, “os horários são semelhantes” e enquanto se anda no mar “só se vem a terra para descarregar” o pescado.Junto à habitação do cunhado, Simão Marques lembrava que o seu familiar “tinha comprado a casa há dois anos” e foi para França “porque lá o ordenado é muito melhor”.

Embora a vítima esteja dada como desaparecida, as possibilidades de sobreviver são escassas e são poucos os que acreditam num milagres. “O mar está muito agitado e a água deve estar com dois graus de temperatura”, explicou. “Tenho lá sete sobrinhos”Junto da casa dos pais da vítima estava Albertino Damas. Tio de João Damas e irmão do pai do pescador, recordou os tempos em que também andou no mar. Agora, desde há alguns anos, a sua vida é passada na Praia de Mira, perto do mar mas fora dele. Salientando que soube da notícia “bem cedo pela televisão”, Albertino Damas pensou logo “nos sete sobrinhos que lá andam no mar”. Embora o jovem pescador esteja dado como desaparecido “nem a família sabe muita coisa” sobre o que passou e o que se está a passar. Aliás, nesta altura em que apenas há a certeza do desaparecimento, a família e amigos aguardam pelas notícias vindas de França, apesar de na comunidade piscatória este desaparecimento ser considerado uma morte, já que as possibilidades de sobreviver são escassas. Recorde-se que para além do pescador desaparecido, os outros dois, vítimas do naufrágio, são provenientes das Caxinas, um dos quais já foi resgatado com vida. A embarcação “Petit Jolie” naufragou com três marinheiros portugueses e quatro franceses a bordo. O balanço das operações de salvamento é dois mortos, um sobrevivente e quatro desaparecidos.
Câmara Municipal está solidária“É uma grande tristeza, estamos todos muito tristes e a câmara vai apoiar a família em tudo o que for necessário”. As palavras são de João Reigota que salientou ao DIÁRIO AS BEIRAS que a autarquia mirense “está solidária e caso a família do pescador se desloque a França vai ter todo o apoio”. Salientando uma “grande incapacidade” em relação à situação vivida, uma vez que a mesma se verificou fora do país e a informação “é escassa”, o edil sublinhou: “o ideal era conseguir recuperar a vida do jovem”. Sem saber o que sucedeu e lembrando já ter contactado a Secretaria de Estado das Comunidades para obter mais informações, Reigota destacou que estes acidentes no mar “têm sido uma tragédia” e são “um drama da região e da praia”. A autarquia vai fazer “tudo o que for necessário e possível para ajudar”, concluiu.
(as Beiras)

6 comentários:

Carlos Monteiro disse...

Sem querer alcançar ou vencer uma dor que verga qualquer racionalidade, venho transmitir este meu sentimento de tristeza e revolta.
O meu amigo Juca deixou-nos, era um homem bom, com uma vida pela frente, irradiava simpatia à sua volta, alegre, trabalhador, corajoso e solidário.
A vida não é justa, se fosse não permitiria que alguém como o Juca, perdesse assim a vida de uma forma tão rude.
“O mar é o companheiro que lhes garante a sobrevivência, ao mesmo tempo que lhes promete a morte.”
Nenhuma resposta vai ser capaz de trazer de novo a paz aos seus familiares destroçados pela dor. Que Deus permita o aparecimento do seu corpo.

Até sempre AMIGO.

Carlos Monteiro

Anónimo disse...

A vida no mar para além de dura e dificil, e por vezes também ingrata.
Aos familiares e amigos do João, um abraço solidário neste duro momento.

JLPinho

Anónimo disse...

Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar
...
Assim escrevia Fernando Pessoa.

Mais uma vez as Gentes da Praia de Mira sentem a dor do desaparecimento de um dos seus filhos.
Abraço Amigo aos familiares e amigos deste Mirense que “partiu”
Carlos Mendes - Mira

Anónimo disse...

Vai com deus Juca .
Portugueses ja tem essa sina do mar antes de nascer,vai estar ao lado dos grandes de portugal os descobridores e dos reis que eram atirados ao mar,e pelo menos por um lado nao foste enterrado em nenhum bocado de area tens a imensidao do oceno para ti xau amigo ,e os meus sentimentos para a familia
Cesario reis,bradford canada

Anónimo disse...

Vai com deus juca ,estas na imensidao do oceano,mas pelo bom lado estas ,tao perto e longe da tua familia, e ao pe dos grandes homens de potugal,como os descubridores,para a tua familia os meus sentimentos de dor que nunca vai embora

Cesario reis,bradford canada

seixomirense disse...

Isto é que dói! Morrer a trabalhar! Morrer por ser trabalhador. REspeito muito esta profissão, tenho familiares muito próximos que estão nesta actividade. Que se tem feito em Portugal pelas pescas! Com tanta costa aqui era necessário portugueses irem para o perigoso Mar do Norte? Os pescadores deviam parar de vez para ver de onde vinha o peixe. Está bem já sei que viria de Marrocos e Espanha. Pescadores portugueses a morrerem e deputados a faltarem ao trabalho.