terça-feira, outubro 27, 2009

Terra com alma...


Com os dias de calor a terminar, feitas as contas de mais um verão e de mais uma época balnear que findou, mais um ano se abeira do fim. Este ano, que foi fortemente marcado pelos diversos actos eleitorais, foi também um ano de consolidação e de afirmação de uma terra e das suas gentes.

Por Lisboa os “Caretos da Lagoa” passearam as suas vestes coloridas num bailado de ousadia e diversão, sempre afoitos e irreverentes como manda a tradição, não fossem eles “Caretos da lagoa”. Pelo Norte, João Petronilho levou imagens desta terra e dos seus habitantes, neste caso não seres humanos, mas animais. Tendo mesmo conseguido um primeiro prémio com a sua fotografia de um sapo das areias.

Pela imprensa e media, noticias como, a Inauguração da Pescanova, a bandeira Azul, os lares para a 3ª idade, entre outras que com pena não me recordo, foram colorindo os dias dos Mirenses que se alegravam com noticias da sua terra. Certamente que também surgiram noticias menos boas, tais como a relativa às areias do montalvo, as relativas a acções vistas como negativas pelas oposições politicas locais, entre outras relativas a roubos e furtos que por aqui também ocorreram. No entanto, e procurando assumir uma posição de observador isento, creio que, numa breve e simplista análise geral, Mira até esteve bem.

Estamos em finais de Outubro, um novo ano está já ali à porta. Um novo ciclo politico iniciou, desta vez com responsabilidades acrescidas para o executivo dirigente local, tal foi a manifestação de apoio manifestada pelos Mirenses.

Neste novo período, em que a tão propagandeada “crise” se fez e fará sentir é conveniente ter os pés bem assentes na terra, não enveredando os executivos locais por megalomanias ou um qualquer projecto macrocéfalo, como por vezes se verifica, apostando antes, e com forte convicção, nos valores que deram origem a esta terra, e a estas gente. Valores locais e reconhecidos por todos os gandarezes, deste o extremo sul ao extremo norte deste pequeno grande concelho.

Esta terra, que engloba em si mesmo um vasto conjunto de potencialidades, deverá ser assumida na sua plenitude enquanto local de lazer e ócio, não só para os que nos visitam, mas também, e sobretudo para aqueles que aqui residem.

Provida de um conjunto de riquezas culturais, etnográficas e ambientais de elevado valor e potencial, esta terra encerra em si aquilo que de melhor se poderá encontrar em toda a região centro.

Certamente tem deficiências em vários os níveis, e quem não as tem, contudo Mira soube, apesar da sua pequenez, manter vivo um certo espírito de pertença, que noutras localidades do litoral centro se foi perdendo ao longo dos tempos. E graças a quem? Aos Mirenses, pois então. A eles deverá ser reconhecido o mérito por termos hoje aquilo que temos.

Aos que lavraram a terra, tantas vezes sob a dura presença de uma natureza agreste no Inverno e castigadora no Verão, devemos graças. Foram esses homens e mulheres que, durante os períodos mais negros da nossa história recente, souberam criar e manter esta forma de estar. Posses tinham muito poucas, a propriedade estava muitas vezes nas mãos de meia dúzia de ricos proprietários cuja única função era rentabilizar as suas terras, graças ao suor de outros de menos recursos. Foram estes homens que, com o apoio da terra, mataram ao fome aqueles que do mar viviam.

Hoje em dia, graças ao trabalho e à “luta”, as circunstancias são outras. E ainda bem. É bom lembrar que tínhamos palheiros na Praia de Mira, como bem relatou Raquel Soeiro de Brito na sua obra “Palheiros de Mira”, mas é ainda melhor ver que poucos têm, hoje em dia, que viver nessas construções, que, apesar de românticas, encerram em si muita pobreza, muita fome e muita miséria.

A nós, habitantes e Mirenses, em pleno século XXI, cabe-nos a dura tarefa de, pelo menos, manter aquilo que os nossos antepassados recentes nos deixaram.

Um vasto sistema hídrico fluvial, composto por valas, ribeiros e regatos, cuja beleza e importância para o bem-estar das populações é sobejamente conhecida. Um ecossistema ambiental e florestal, cuja existência se deve, sem qualquer dúvida, aqueles que com o suor do seu rosto e com a força dos seus braços a semearam e acarinharam durante o seu crescimento, cabendo nos agora a tarefa de o preservar, recriando-o e reinventando para um usufruto coincidente com as actuais exigências e necessidades. Uma linha de costa, romântica e protectora, cujas areias foram inspiração para poetas, e cuja imagem perdura na mente daqueles que nos brindam com a sua visita.

Gosto de ver os Mirenses orgulhosos da sua terra, e gostaria ainda mais ver esses mesmo cidadãos exercerem a cidadania que nos deram de uma forma integra, promovendo e impulsionando aquilo que é nosso, e que a nós cabe usufruir, mas sem duvida também proteger e promover.


João Luís Pinho

6 comentários:

Anónimo disse...

Boa
Concordo plenamente com o exposto.
Proteger e divulgar o melhor que temos.
Devendo claro ter também em conta a industria e a construção, pois delas dependem muitos salários.

Anónimo disse...

PROTECÇAO E DESENVOLVIMENTO SOCIOECONOMICO PARA O POVO SIM SENHOR
MAIS APOIO PRA QUEM PECISA E MAIOR RIGOR NO RENDIMENTO MINIMO E ETC E TAL

Anónimo disse...

O Instituto da Água I.P., adjudicou e encontra-se em fase de execução uma “Empreitada de reabilitação do Cordão Dunar a Sul do Esporão do Areão e a Sul do Esporão do Poço da Cruz.
Esta empreitada tem como fim a retirada de areias, por camadas de pequena espessura, das zonas entre marés, situadas a norte e a sul de cada esporão e por forma a não ficarem fundões ou depressões, realizando a carga, transporte e reabilitação dos cordões dunares numa extensão total de cerca de 2000m (2 troços de 1000m).
Esta obra é o resultado dos inúmeros alertas e reivindicações realizados pelo Município de Mira, com vista à protecção do sistema dunar, uma vez que se encontrava bastante fragilizado, tendo sido registados em alguns pontos várias transgressões marinhas (galgamentos).
O Município de Mira congratula-se com mais esta obra, que irá mitigar os problemas do cordão dunar, salvaguardando pessoas e bens.

Anónimo disse...

Até que enfim que se faz alguma coisa.
O autor deste texto Joao Luispinho fala muito bem e diz tudo, mas que tem ele feito pela melhoria das condições do ambiente em Mira?
Não pode ser só falar

Joao M.C. (Mira) disse...

Que eu saiba até faz alguma coisa.
Ta metido em associaçoes proambiente, ajuda quando ha acçoes de voluntariado pra limpar a terra entre outras acçoes em que já o vi
Agora o senhor anónimo é que poderia identificar se para ver se tambvem tem feito alguma coisa pelo bem estar das populaçoes

Carlos Monteiro disse...

Em primeiro lugar queria saudar o João Luís pelo belo texto que nos proporcionou.
Se há algo que nos une e caracteriza, como Mirenses, é que gostamos das nossas paisagens, das nossas raízes, do nosso território.

Temos uma riqueza ímpar e notável que importa proteger e divulgar. ... A nossa paisagem, a nossa cultura e as nossas tradições, há uma multiplicidade de saberes e conhecimentos que é urgente proteger e exaltar.

Conhecimento, protecção, valorização e divulgação do património cultural constituem um dever das autarquias locais, através da salvaguarda e valorização do património cultural, deve a autarquia assegurar a transmissão de uma herança cuja continuidade e enriquecimento, unirá as gerações num percurso civilizacional singular.

Em termos paisagísticos, temos paisagens de um verde imenso e espontâneo, uma riqueza patrimonial impar e gente genuína e hospitaleira.
Não se pretende que os locais que temos de preservar sejam encarados apenas como santuários naturais que excluem toda a actividade humana, dependendo mesmo muitos da presença do homem para a sua gestão e sobrevivência. Apenas se pretende que, em caso de conflito com os objectivos de conservação, as actividades que possam afectar de forma adversa as espécies e habitats sejam adaptadas de forma a garantir a sua manutenção sustentável.