quinta-feira, setembro 27, 2007

Dia Mundial do Turismo



Comemora-se hoje, dia 27 de Setembro, o Dia Mundial do Turismo, este ano subordinado ao Tema "O Turismo abre as portas às mulheres", escolhido pela Organização Mundial do Turismo (OMT).
Um pouco por todo o lado vários são os organismos e entidades que de uma ou de outra forma procuram lembrar este dia, por exemplo as turistas que chegarem esta quinta-feira a Portugal vão receber uma flor.
Provavelmente assistiremos tambem a varios discursos de varias entidades, reconhecendo as virtudes deste sector económico - "o Turismo é a principal indústria de Portugal", " o Turismo é a principal indústria do século XXI", entre outros dados e factos que mesmo um leigo na matéria consegue verificar, basta ver as quantidade de familias que vivem exclusivamente deste sector, ou de actividades paralelas a ele, e não será preciso ir até ao sul soalheiro do Algarve, pois mesmo aqui na nossa terra "à beira mar plantada" há quem viva quase exclusivamente dos frutos da actividade turistica aqui desenvolvida.
Creio que nem mesmo aqueles que nada percebem do fenómeno não se coibirão de expressar as suas opiniões (e ainda bem que o podemos fazer, liberdade de expressão acima de tudo).

Na região centro anuncia se a assinatura de mais um protocolo de colaboração, desta vez entre a Região de Turismo do Centro (RTC) e a Federação Portuguesa das Confrarias Gastronómicas com vista à criação de uma carta gastronómica. O projecto custa 350 mil euros e como o dinheiro não abona por estes lados os promotores tentam o financiamento através do QREN.
Apesar disto, a propria RTC estará em risco de sair de Coimbra (o que para nós Mirenses talvez nada represente, pois somos praticamente uma região periférica no que diz respeito a apoios, iniciativas ou actividades da RTC, o que nada abona para a propria RTC).

Por Mira, a Camara Municipal e o Museu etnografico decidiram organizar uma merenda, "onde poderá reavivar a memória degustando produtos gastronómicos locais" passando depois um filme relacionado com os direitos da mulher. Quanto à merenda, e correndo desde já algum risco, creio ser uma boa iniciativa, é algo nosso, representativo das nossas origens e desde sempre sinónimo de unificação de gentes e culturas. Quanto ao filme não posso deixar de manisfestar algum espanto, sem deixar de apoiar a igualdade entre homem e mulher, creio que poderiam ter optado por outro filme, algo mais ligado quer ao dia em questao, quer à propria regiao. Fico a pensar que filme mostrarão no dia da Mulher, talvez algo sobre os palheiros ou a riqueza patrimonial das gandaras...

O dia de hoje deveria ser o inicio de um ciclo há muito adiado, o inicio de uma analise do fenómeno turistico na nossa região. Uma analise concertada e sobretudo multiparticipada. Deixemos também de apontar o dedo ao municipio em todas as questões relacionadas com o Turismo, é um facto que também a CM Mira tem responsabilidades no sector ao nivel local, mas também o têem os diversos agentes económicos locais, e talvez ainda mais do que o proprio municipio. Falamos constantemente de Turismo, das belezas naturais, do património local e por ai adiante, mas se formos sinceros e honestos se houve alguem que fez algo pela promoção e valorização destes foi sem dúvida o Municipio (nao fizeram mais que a sua obrigação dizem alguns..., correcto mas por vezes mesmo aqueles que tinham essas obrigações falharam). Também algumas Associações têem mostrado como se faz e como se promove a nossa terra, basta ver o trabalho desenvolvido pela AAMARG e pelos Nabos, que na sua forma peculiar de actuaçao teem colocado Mira no mapa.
Nos ultimos anos muito pouco se fez de facto, mas ainda estamos bem a tempo de apanhar o comboio do desenvolvimento, partido do Turismo como alavanca de apoio (o Cluster ja bastantes vezes falado).
A pista ciclopedonal foi e é sem dúvida um marco nesta forma de actuar. Criada nao so para os Mirenses, permite desde logo uma forma de contrabalanço relativamente à vida sedentária que levamos, contribuindo pra o bem estar fisico e social; Mas tambem para o Turista, pois permite um conhecimento real da vida quotidiana de um lugar, desde a cultura local até ao patrimonio paisagistico ambiental.

Será que dentro desta terra não seremos capazes de encontrar gentes capazes de prosseguir com este modelo de desenvolvimento? Será assim tão dificil?
João Luís Pinho

3 comentários:

Carlos Monteiro disse...

O turismo no nosso concelho é o que todos sabemos: dois meses por ano, praias superlotadas quando o tempo permite, enchentes monumentais nos fins-de-semana. Parques e zonas de lazer lotados, supermercados e restaurantes apinhados de gente e muito lixo acumulado.
Não pensem que a descrição que faço é por despeito, não, é a realidade do turismo que temos e que apesar de tudo vai dando alguma animação ao verão da Praia de Mira e permitindo, ainda assim, a existência de alguns negócios que criam, embora na maioria precários, uns tantos empregos.
Dito isto, vamos ao que interessa: É este tipo de turismo que pode ser encarado como uma actividade importante para a economia local? Duvido.
O modelo de turismo de hoje é totalmente diferente de há vinte anos atrás. Melhor ou pior? Será este o caminho? Que proveito tira o concelho de Mira?

As excelentes acessibilidades de que hoje beneficiamos e o património cultural e paisagístico existente, floresta, praias seguras de largos espaços, terra de sossego, de pescadores e gentes simpáticas, aliados à dinamização de outros novos desígnios que possam complementar a procura turística, podem transformar Mira num destino privilegiado para quem nos visita.
Para isso, é necessário trabalhar com o objectivo de criar uma marca da localidade associada a um turismo de qualidade, pelo que é essencial promover uma acção integrada de preservação e requalificação do meio ambiente que rodeia os locais de maior afluência de visitantes (praias, miradouros, percursos ciclo-pedonais, zonas de lazer, ...), aumentando a sua atractividade. Infelizmente estamos longe de satisfazer estes objectivos. Senão vejamos:
- As zonzas de laser, apresentam um aspecto desleixado e deprimente. É urgente pôr um ponto final à desolação dos espaços verdes e torná-los acolhedores

- A pista ciclo-pedonal, apesar de bem traçada, na verdade não está suficientemente cuidada nem se mostra atractiva para visitantes. Haverá falta de verbas, ou é intenção que a zona fique tão inexplorada quanto possível?

- O estado crítico de degradação ambiental em que se encontram os cursos de água deste concelho, a barrinha /lagoa. É necessário tomar medidas urgentes para estes locais, para erradicar as causas que conduziram ao seu actual estado de degradação. Atendendo aos riscos existentes para os ecossistemas desta área, para as populações e para o turismo.

Por vezes o turismo e a conservação seguem caminhos opostos, permanecendo isolados um do outro. Esta é uma situação que tende a não ser duradoura, pois há muitos aspectos no crescimento do turismo que intersectam com os do ambiente, sucedendo-se assim uma relação de conflito ou de simbiose.

Todavia, ser autarca não passa só por ostentar a simpatia das suas gentes, ou aguçar o apetite gastronómico do visitante, passa por reunir em si uma série de condições e características que permitam gerir de forma eficiente o território. Não podemos esperar, como no poema de Brecht, que nos venham buscar para reagir, temos de ser dinâmicos e responsáveis. Porque uma politica coerente, a pensar no futuro em termos de turismo, é um eixo fundamental para o desenvolvimento sustentável do concelho.

Carlos Monteiro

Anónimo disse...

Boas intervenções, sim sr.
Afinal o Ps em Mira não está assim tão mal servido quanto dizem.

Saudaçoes

MJP

Anónimo disse...

Perante estes dois textos, pouco ou nada tenho a acrescentar. Simplesmente estar solidário com estes dois camaradas, e a forma de como participam nos destinos da nossa terra. Pena é que não lhe dêem a atenção devida. Mas mau, mesmo muito mau, é olharem para trás e sentirem que pouco ou nada se fez, que as suas palavras caíem num poço sem fundo. Como é possível? Parece que não há nada para planear ou mudar neste concelho. Depois ficam admirados com artigos e textos que estes escrevem. Daí as desilusões, a predominância e o esquecimento da mística e dos ideais.
Sinceramente, também tenho de parar para pensar um pouco.