terça-feira, outubro 24, 2006

Agricultura Biologica

A agricultura é na generalidade dos países desenvolvidos, e em particular em Portugal, considerada como um sector com baixo dinamismo empresarial, com baixa atractividade para o investimento e baixo peso no PIB.
No entanto, do ponto de vista ambiental, por outro lado, a agricultura tem um peso muito superior ao peso que representa no PIB. Este peso reflecte-se na sua ocupação do solo, no seu impacte (negativo) sobre a biodiversidade, no seu consumo de água e no seu contributo para a poluição da água. Adicionalmente, diversos estudos têm vindo a demonstrar que a alimentação, analisada no seu ciclo de vida, representa uma das principais componentes do impacte ambiental do consumo.

Vemos também uma crescente importância dada na comunicação social aos problemas da segurança alimentar, com múltiplos escândalos relacionados com falhas nessa segurança alimentar, como a BSE ou os nitrofuranos.
Suponha agora que era possível juntar consumidores, agricultores e ambientalistas, a trabalhar em conjunto num projecto que permitisse dinamizar empresarialmente a agricultura biológica, promovendo junto dos consumidores produtos sustentáveis e com garantia de segurança alimentar, rigorosamente controlados no agricultor.
A agricultura sustentável é o resultado do uso da interacção dos métodos alternativos que utilizam a agricultura biológica, a biodinâmica, o controle biológico e o natural, visando o desenvolvimento de uma agricultura com o menor prejuízo possível ao meio ambiente e à saúde humana, onde se tenta aproximar o equilíbrio estabelecido nas relações entre os recursos naturais envolvidos nos sistemas produtivos agrícolas, do equilíbrio natural de um sistema ecológico.
O solo que sai das lavouras causa assoreamento e a poluição nos rios e represas, condição que acaba por afectar a potabilidade da água fornecida aos animais e aumentar o custo de tratamento da água fornecida à população urbana. A erosão do solo provoca perdas de solo, nutrientes e matéria orgânica; diminui a capacidade de armazenamento de água; altera os atributos físicos, químicos e biológicos do solo e promove a estagnação do rendimento das culturas a níveis abaixo do seu potencial produtivo. Além disso, a erosão do solo causa também problemas ambientais, económicos e sociais. Esta situação provoca a redução lucrativa da exploração e, ao mesmo tempo, tornam os produtos menos competitivos no mercado. Isso contribui para que muitos agricultores sejam levados à falta de estímulo e ao consequente abandono da agricultura. Com isso, agravam-se os problemas sociais em prejuízo de toda a sociedade.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) cerca de 20.000 pessoas morrem por ano e milhões são envenenados directa ou indirectamente pelos efeitos dos agrotóxicos. Além disso, a própria terra torna-se inaproveitável pela contaminação por agrotóxicos reiteradamente usados, sendo este um dos factores de redução da sua capacidade, além de que os pesticidas prejudicam a saúde humana, contaminam a água, agridem os ecossistemas e deixam as pragas mais resistentes. Isto aliado à erosão, à desertificação e ao desaparecimento dos produtos nutrientes, por serem as mais significativas causas da degradação não somente dos solos, mas afectam em diversos graus, todos os recursos naturais, de forma directa e indirecta, resultantes dos maiores problemas da agricultura.
Estas constatações mostram a necessidade de se modificar a forma de agricultura, surgindo a emergente agricultura biológica. Dentro deste novo panorama, várias áreas da ciência têm mostrado respostas altamente significativas no desenvolvimento e adequação de estratégias tecnológicas, com custos baixos, altamente eficientes e adaptáveis à maioria das condições dos agricultores. Porém o maior desafio que ainda persiste na adequada transferência desta tecnologia é a completa aceitação/adaptação pelo principal beneficiado: o agricultor.
Entre as práticas de uso do solo com o objectivo de reverter o processo de degradação, as práticas vegetativas (cobertura do solo, adubação verde, rotação de culturas, cultivo mínimo e plantio directo) têm-se mostrado altamente eficientes. Além disso, outros factores benéficos tais como a recuperação de áreas degradadas, reciclagem de nutrientes, redução da infestação por plantas daninhas, pragas e doenças e a possibilidade de integração com a pecuária, são possíveis com o uso de tais práticas.
Entre estas tecnologias, pode-se citar o desenvolvimento e o avanço obtido para a agricultura biológica, que se tornou possível com a utilização de insecticidas biológicos, adubos naturais e esterco animal para fertilizar os campos, optando ainda o agricultor pela forma rotativa de colheitas para “não cansar o solo”. Sabe-se também que algumas empresas já estão a produzir enzimas que aumentam a dissolução do mineral fósforo contido nas rações para animais, diminuindo assim a contaminação do solo e da água quando os seus dejectos são utilizados como adubo orgânico.
Apesar da oferta e da procura ter aumentado, os produtos de agricultura biológica ainda não se encontram com muita facilidade. Só em grandes superfícies comerciais e em lojas especializadas mas a diferença dos preços deixam muitos consumidores reticentes. Os agricultores encontram grandes dificuldades na distribuição dos seus produtos. As grandes superfícies garantem a compra mas pagam o que querem, e as perdas (produtos não vendidos) são suportadas pelo próprio produtor. Por isso há todo o interesse em evitar essa intermediação com o consumidor final.

Soluções simples, mas eficientes são sempre muito bem vindas, principalmente as de baixo custo e adaptadas às condições locais, certamente, são um dos caminhos em que se pode ter a possibilidade de se promover a tão desejada sustentabilidade na agricultura. Algo aparentemente complexo, mas não inatingível, principalmente para quem tem o conhecimento, cria, adapta e aperfeiçoa a agricultura, contribuindo significativamente para a humanidade e para os recursos naturais.

Carlos Monteiro

11 comentários:

Anónimo disse...

So é pena que sempre que procuramos esses produtos eles escasseiam no mercado e sao mais caritos (talvez porque ainda ha poucos produtores!?) mas tb esta ai uma fonte de receitas no futuro.
De qualquer forma é bom que se divulgem estes temas

Abraços amigos do P.Moreira

Anónimo disse...

Concordo na íntegra com o texto do Eng. Monteiro. No entanto devo dizer-lhe que nesta área existe pouca divulgação de sistemas e produtos.
Deveria o Governo intervir sobre um conjunto piloto de agricultores, as suas cadeias de comercialização e os seus consumidores. Nesse processo, deverá ser dado apoio aos agricultores, em agronomia, gestão, distribuição e marketing, e ser feita a divulgação para os consumidores. Os resultados ambientais, económicos e sociais da fase piloto deverão ser avaliados, utilizando a informação e pela monitorização adicional das quintas, das cadeias de transformação e comercialização e dos consumidores. Á fase piloto segue-se a fase generalizada que adapta os agricultores e implementa-o num conjunto mais amplo de agricultores.
Também neste processo o agricultor deverá assegurar a compatibilidade com a agricultura biológica, a certificação de origem e as medidas agro-ambientais. Em todos os níveis o agricultor terá um sistema a criar que responda de facto aos anseios dos consumidores

Anónimo disse...

De acordo com a Codex Allimentarius Comission, FAO/WHO, 1999, "A Agricultura Biológica é um sistema de produção holístico, que promove e melhora a saúde do ecossistema agrícola, ao fomentar a biodiversidade, os ciclos biológicos e a actividade biológica do solo. Privilegia o uso de boas práticas de gestão da exploração agrícola, em lugar do recurso a factores de produção externos, tendo em conta que os sistemas de produção devem ser adaptados às condições regionais. Isto é conseguido, sempre que possível, através do uso de métodos culturais, biológicos e mecânicos em detrimento da utilização de materiais sintéticos."
Mas afinal porquê devemos nós preferir esses alimentos se as nossas alfaces, couves e outros legumes de produção em massa nos parecem tao bons?
A saúde. O facto de se proibir o uso de químicos de síntese (pesticidas, fertilizantes, aditivos, hormonas para os animais, etc.) evita a exposição dos consumidores a produtos potencialmente nocivos para a saúde humana. Também se fomenta uma utilização mais controlada dos solos, apelando à biodiversidade, e que, com práticas simples (como a rotação das culturas, a compostagem, etc.), permite prolongar a sua utilização contribuindo também para diminuir os riscos de erosão e de contaminação dos lençóis de água (o que já seria uma enorme ajuda á limpeza das nossas lagoas) Garante-se, desta forma, que os alimentos que chegam ao consumidor estão livres de elementos tóxicos.
O sabor. Ao serem produzidos em ambientes saudáveis, controlados e livres de químicos, os produtos biológicos mantém as características de qualidade e sabor, normalmente descuradas em favor de maiores quantidades de produção (na agricultura convencional). Estes alimentos recuperam as cores, odores e sabores, que em muitos casos, estavam já esquecidos. Variados testes revelaram uma maior quantidade de nutrientes vitais (como vitaminas, sais minerais, hidratos de carbono e proteínas) nos produtos oriundos da Agricultura Biológica.
A comunidade. Os benefícios directos às comunidades que adoptam a Agricultura Biológica como forma de produção são inúmeros. Desde a aceitação pública, pelo facto de se praticar uma agricultura que defende quer o ambiente (por exemplo, com menos libertação de gases para a atmosfera) quer o consumidor final (garantia de produtos de melhor qualidade) até ao facto de serem menores os custos energéticos associados a esta forma de produção. Além de recuperarem uma posição de dignidade, estes agricultores ficam, também, menos expostos a toxinas nocivas á nossa saude.
Os produtos de Agricultura Biológica provêm de fontes seguras (esta é uma actividade rigorosamente controlada, garantida pela certificação dos produtos) tendo os produtores que cumprir a legislação europeia em vigor, adoptada também em Portugal.

Anónimo disse...

Estou deveras impressionado com o senhor Carlos Monteiro, ele escreve para o jornal Ambiente, para a revista Fórum Ambiente, para os blogs Mirapólis e Mirices, para o jornal da Gândara, já li um artigo de opinião seu, no jornal Público e para minha surpresa ouvi uma entrevista sua numa rádio de Aveiro, sobre formação técnica profissional.
Afinal onde andou o senhor escondido tanto tempo, que ninguém lhe conhecia esses atributos?
Porque razão escondeu tantos conhecimentos ambientais, se o objectivo é divulgar?
O que pretende realmente com esta explosão literária? Será aquilo que eu penso? olhe que ainda vai ter que escrever muito, porque ainda falta bastante tempo.

Carlos Monteiro disse...

Olhe amigo anónimo das 10:12

Se escrevo para blogs e para jornais regionais é porque gosto. Permite-me tomar contacto com um grande número de pessoas que escrevem muito bem e cuja leitura me dá prazer.
Em relação aos meus textos ambientais julgo serem sempre interventivos porque eles resultam de um modo de sentir, de um expressar do que me vai cá dentro, esse resíduo resulta da vida que foi e é uma parte da nossa sociedade.

A minha simples disponibilidade de lutar, de não me conformar, já sinaliza que tenho expectativas positivas. À nossa geração cabe construir o caminho da reversão de tendência de uso irresponsável dos nossos recursos antes que eles desapareçam, contribuindo com conhecimentos alicerçados em base científica. Como defensor do ambiente tenho uma grande motivação pessoal, que são os jovens que estudam e trabalham nesta área. Eles são sempre fonte de inspiração e de optimismo, por mais dura que a vida nos possa parecer.

Quanto ao meu objectivo, posso-lhe dizer que a “importância” que se dá a certas coisas é sempre, relativa, influenciável e dependente, sobretudo depende da maneira de como se observa, como se pesa o que se lê e se compara, muitas vezes respondendo fielmente a opiniões de nossos amigos que usam a capa do anonimato, que não nos conhecem, ou conhecem bem demais, parte deles consumadas varinas da tradição que fomos ensinados a respeitar. Por isso entenda os meus textos da maneira que quiser.

No entanto, recuso-me a ser mais uma das muitas vidas que andam por aí rés ao chão, a debicarem migalhas caídas de papo-secos tradicionais fabricados com farinhas magras e refinadas, roubadas do melhor farelo nutritivo.

Carlos Monteiro

Anónimo disse...

A agricultura biológica é, para mim, tema caro. Fui um dos primeiros sócios da Agrobio e, também eu, tenho pena da pouca divulgação e dos preços proibitivos que aaprecem nos poucos produtos à disposição do consumidor.

Anónimo disse...

mira merece discussão

Anónimo disse...

mira precisa de discussão séria

Anónimo disse...

mira merece discussão;
mira precisa de discussão séria;
MAS NÃO NOS CAFÉS E NAS MESAS DAS TAVERNAS ONDE CERTOS POLÍTICOS GOSTAM DE VENDER SEU PEIXE.
AÍ NÃO!
É NECESSÁRIO MESMO DISCUTIR MIRA A SÉRIOOOOOO
MELRO SEM PIO

Anónimo disse...

Quando por aqui alguém escreveu que o governo deveria colaborar no sentido do desenvolvimento da agricultura natural, talvez não levasse na devida conta que o governo pouco lhe interessa dedicar a sua atenção em áreas de prevenção e segurança da saúde das pessoas.
Cuidados de saúde que evitem gastos futuros com a doença, assim como gastos com a prevenção de acidentes de trabalho ou rodoviários, são de evitar.
Quanto à agricultura, a produção intensiva torna os produtos mais acessíveis e escoam-se mais facilmente das prateleiras dos supermercados dos capitalistas donos do mercado e dos políticos nos governos.
Assim, o circulo fecha-se: a agricultura orgânica é mais cara pela concorrência dos alimentos com químicos e a indústria química ganha milhões, e enquanto cara tem menos compradores e desenvolve-se muito lentamente e só para os consumidores com maior poder de compra.
E, assim, lá vão correndo as coisas...

Anónimo disse...

Quando por aqui alguém escreveu que o governo deveria colaborar no sentido do desenvolvimento da agricultura natural, talvez não levasse na devida conta que o governo pouco lhe interessa dedicar a sua atenção em áreas de prevenção e segurança da saúde das pessoas.
Cuidados de saúde que evitem gastos futuros com a doença, assim como gastos com a prevenção de acidentes de trabalho ou rodoviários, são de evitar.
Quanto à agricultura, a produção intensiva torna os produtos mais acessíveis e escoam-se mais facilmente das prateleiras dos supermercados dos capitalistas donos do mercado e dos políticos nos governos.
Assim, o circulo fecha-se: a agricultura orgânica é mais cara pela concorrência dos alimentos com químicos e a indústria química ganha milhões, e enquanto cara tem menos compradores e desenvolve-se muito lentamente e só para os consumidores com maior poder de compra.
E, assim, lá vão correndo as coisas...